domingo, 2 de dezembro de 2018

O afeto na sala de aula


 A proximidade do final do ano e, portanto, o encerramento do ano letivo está provocando em alguns alunos do nono ano de minha escola uma mudança de comportamento, alguns alunos parecem que estão percebendo que dentro de poucas semanas aquele espaço que frequentaram por tanto tempo não fará mais parte de sua rotina. Este sentimento tem ficou claro para mim e para alguns colegas, notamos que muitos alunos têm vindo no turno inverso para estudar ou ajudar algum professor, como foi meu caso na semana passada. Mas esta minha observação, em relação, ao sentimento dos alunos do nono ano, foi provocada por um adolescente que foi meu aluno na segunda serie e me cobrou como eles
não haviam estudado sobre os vulcões naquela época, e que até seria interessante voltar a estudar no segundo ano.


Se quisermos que os alunos recordem melhor ou exercitem mais o pensamento, devemos fazer com que as atividades sejam emocionalmente estimuladas. A experiência e a pesquisa têm mostrado que um fato impregnado de emoção é recordado mais sólido, firme e prolongado que um feito indiferente. Cada vez que comunicarem algo ao aluno tente afetar seu sentimento. A emoção não é uma ferramenta menos importante que o pensamento (VYGOTSKY, 2003, p.121)



A situação a cima descrita fala das relações afetiva que são tão importantes  dentro do ambiente escolar, assim como o lúdico, considero o afeto um aspecto muito importante para criar um ambiente  favorável ao desenvolvimento não somente em termos de aprendizagem como  do aluno como um todo, revisitando minhas antigas postagens havia  uma que falava sobre o afeto e a educação 

Analisando o que escrevi posso dizer que, como disse anteriormente, o afeto a interação entre o professor e seu aluno é fundamental para não somente o aprendizado ocorra mas que seja estabelecida um sentimento de confiança daquele aluno em relação ao seu professor.

No entanto, tenho  percebido que muitas vezes as crianças não são receptivas a um passar de mão pelo cabelo, por exemplo, ou a uma brincadeira enquanto outros pedem que ela ocorra, estas observações vinham me inquietando, em maio desta ano em uma palestra na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a Professora Drª Tânia Fortuna  no decorrer de sua fala sobre a importância do brincar tocou em um aspecto  igualmente importante quantas vezes invadimos o espaço de nossos alunos, com atitudes que julgamos carinhosas ,mas que para nosso aluno torna-se mais agressivo do que carinhoso, quantas vezes palavras ou brincadeiras que são próprias de nossos filhos repetimos com nossos alunos,esquecendo-se que cada família possui sua cultura

O que tenho refletido nestes últimos tempos é a questão do olhar meu aluno, não se trata de não demostrar afeto ou ter atitudes carinhosas, mas sim de perceber se aquela criança está me autorizando a interagir com ela através de um abraço ou de uma brincadeira.


[…] Como professor […] preciso estar aberto ao gosto de querer bem aos educandos e à prática educativa de que participo. Esta abertura ao querer bem não significa, na verdade, que, porque professor, me obrigo a querer bem a todos os alunos de maneira igual. Significa, de fato, que a afetividade não me assusta que tenho de autenticamente selar o meu compromisso com os educandos, numa prática específica do ser humano. Na verdade, preciso descartar como falsa a separação radical entre “seriedade docente” e “afetividade”. Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e “cinzento” me ponha nas minhas relações com os alunos, no trato dos objetos cognoscíveis que devo ensinar. (FREIRE, 1996, p. 159)


É neste pensar de Freire que me encontro, na afetividade permitida, na troca e no aprendizado. Penso que estas inquietudes fazem parte do meu construir permanente enquanto educadora, nos estudos, nas trocas com colegas, mas acima de tudo sempre vendo meu aluno como individuo que traz consigo uma bagagem não somente de conhecimentos como emocionais.





                                                                                                     

Referência:

FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.

VYGOTSKY, L. S. Psicologia pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2003.




A importância do brincar na escola


Enquanto educadora sempre considerei que  o brincar, o lúdico, são muito importante não somente para o estreitamento e fortalecimento dos laços afetivos entre o  professor e seus alunos como também no relacionamento entre as crianças, no entanto, a importância do lúdico dentro da escola  por muito é considerado desnecessário, ou  deve estar presente em a Educação Infantil  no máximo no 1º ano, após esta etapa da escolaridade o lúdico deve se colocado em segundo plano. Deste modo minha terceira postagem revisitada trata do brincar na escola. 

A postagem revisitada fala do brincar na escola mas aborda principalmente a questão do jogo como um facilitador da aprendizagem assim como da interação social entre as crianças, e neste contexto, percebo que o  jogo e brincadeira eles são aceitos no contexto escolar, mas  a brincadeira, o brincar fora do contexto da Educação Física ou com um claro cunho pedagógico ainda são entendidos como um meio de passar um tempo fora da sala de aula.


Se brinquedos são sempre suportes de brincadeiras, sua utilização deveria criar momentos lúdicos de livre exploração, nos quais prevalece a incerteza do ato e não se buscam resultados. Porém, se os mesmos objetos servem como auxiliar da ação docente busca-se resultados em relação à aprendizagem de conceitos e noções, ao desenvolvimento de algumas habilidades. Nesse caso, o objeto conhecido como brinquedo não realiza sua função lúdica, deixa de ser brinquedo para tornar-se material pedagógico. Um mesmo objeto pode adquirir dois sentidos conforme o contexto em que se utiliza: brinquedo ou material pedagógico (KISHIMOTO, 1993, p.15)


O brincar que me refiro, é o se permitir brincar com as crianças propiciar momentos em que as crianças possam brincar, interagir entre elas e com o professor e com as pessoas que fazem parte do seu cotidiano escolar. Neste sentido Wajskop afirma


 a brincadeira é uma situação privilegiada de aprendizagem infantil onde o desenvolvimento pode alcançar níveis mais complexos, exatamente pela possibilidade de interação entre os pares em uma situação imaginária e pela negociação. (WAJSKOP 2005, p. 35)



Durante esta semana em dois momentos este brincar com meus alunos foi visto como, um passar de tempo. E que percebo foi uma mudança em minha postura, algum tempo atrás ficaria constrangida pelos comentários, mas atualmente posso responder não somente através de argumentos teóricos como apontar a diferença que estes momentos fizeram e fazem na minha turma.

As crianças da escola vivem em um bairro de vulnerabilidade social, por este motivo muitos são privados de descerem, devido a violência ficando confinados em seus apartamentos e deste modo são privados do brincar na rua, de trocar com seus pares conhecimentos adquiridos através das brincadeiras. Outros não são poupados pelos pais de situações conflituosas que ainda não tem maturidade para compreender, e deste modo, em muitos casos é na escola que refletem suas dores e angustias.


 O brinquedo fornece ampla estrutura básica para mudança das necessidades e da consciência. A ação na esfera imaginativa, a criação das intenções voluntárias e a formação dos planos da vida real e motivações volitivas, tudo aparece no brinquedo [...] A criança desenvolve-se, essencialmente, através do brinquedo. (VYGOTSKY 1991, p. 117)


Este expressar muitas vezes se traduzem em atitudes consideradas indisciplinadas ou em quietudes que não são próprias de crianças pequenas e é através do brincar que estes conflitos se revelam, auxiliando o professor a trabalhar e principalmente acolher este aluno.

Referência:


KISHIMOTO, Tizuko Morchida. O jogo e a educação infantil. São Paulo: Pioneira, 1993.

VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991.

WAJSKOP, G. Brincar na pré-escola. São Paulo: Cortez, 2005.