O Brasil te
O final da escravidão não significou o
fim na separação entre brancos e negros e consequentemente do preconceito
presente nas relações sociais. O racismo durante um longo período da história
brasileira foi exercido explicitamente, não são raros os relatos de casos em
que negros foram impedidos de frequentar lugares, integrar times de futebol,
associações ou clubes recreativos, “em São Paulo, ‘a segregação atingia certas
praças, avenidas ruas, e até bares. O espaço público ficava cindido: onde o
negro colocava o pé, o branco não frequentava e vice-versa.” (Domingues,2000
apud GOMES, 2008 p. 273)
O discurso vigente no Brasil é que não
somos um país racista, pode-se até admitir que existem episódios de preconceito
racial, contudo, estes não refletem uma prática da maioria da população
brasileira. No entanto, de acordo com pesquisa realizada por Venturini e Paulino
(1995) apud CAMINO, s.d. p 21 89 % dos brasileiros reconhecia a existência de
preconceito racial no Brasil, mas somente 10% admitia ser pessoalmente
preconceituoso.
Com
tudo, os dados acima, refletem que apesar das leis e das campanhas de
conscientização contra o racismo, este continua ocorrendo em nossa sociedade,
mas agora com uma outra apresentação, ou seja, os atos discriminatórios ocorrem
de forma mais sutil, mascarado em brincadeiras e frases que aparentemente são carinhosas,
mas refletem um pensamento racista que perdura há várias gerações. De acordo
com LIMA e VALA, 2004, p. 403 “No Brasil, uma análise mais cuidadosa das
características positivas atribuídas aos negros indica uma nova e mais
sofisticada forma de preconceito, uma vez que os estereótipos positivos
aplicados definem claramente papéis sociais específicos para este grupo.”
Com
isto podemos perceber que no imaginário
social brasileiro, a figura do branco, do europeu, sempre esteve associada ao
sucesso, a aspectos positivos. Ter a pele branca significa de certa forma ser pertencente a categoria
dos vencedores. Esta idealização de um padrão, europeu, também encontra-se no
interior da famílias inter raciais , onde
o racismo ocorre, na maioria dos casos, de maneira muito mais sutil se comparado com a sociedade como um todo, mas nem por isto, deixa de ser prejudicial
principalmente as crianças, que desde muito novas aprendem que ser
chamado de negro é racismo mas ao mesmo tempo, são submetidas, principalmente
as meninas a processos de alisamento de cabelo, com o objetivo de “tornar o
cabelo bom”, liso. Ou seja, contribuindo desta forma para reforçar a construção
negativa da auto estima destas crianças.
Realizei com meus alunos uma atividade de autorretrato, levei para a sala um espelho e solicitei que cada um se desenhasse,após chamei individual para que me dissessem qual era sua cor.
O autorretrato foi uma atividade que
mexeu muito com algumas crianças principalmente duas meninas cujo o pai é negro
e a mãe é branca, uma dessas alunas relatou por diversas vezes situações de
racismo sofridas pelo pai ou outro
familiar, assim como, ela tem claramente na sua concepção que existe diferença
de tratamento relação as pessoas negras.
Refletindo sobre esta atividade percebo
como ainda tenho um longo a trilhar, se faz necessário um trabalho efetivo contra o racismo e um
resgate histórico em relação aos negros e sua cultura. Infelizmente nos detemos
neste temas quando em nossas salas ocorrem
situações de preconceito ou na Semana da Consciência Negra.
Nós enquanto escola também,ao lado da família, somos um espaço privilegiado par resgatar a autoestima
destas criança, reconstruir com ela a história de suas famílias, conversamos
sobre a escravidão e seus malefícios mas também mostra a resistência deste escravos
que se utilizaram de múltiplas estratégias para resistir e preservar sua
cultura. Cultura esta que ultrapassa o mundo da música ou da culinária.
Entretanto, para a escola ser um espaço de resistência e de resgate da cultura
e da identidade africana, é necessário que os educadores estejam em constantes
cursos de aperfeiçoamento, pois, muitas vezes reproduzimos em nossas sala o
preconceito que julgamos estar combatendo. “ É de suma importância que o/a
professor/a se veja como produtor/a de história, de conhecimento de ações que
podem transformar vidas, [...]” ( ROCHA e TRINDADE, 2006, p. 66).
Referências:
CAMINO, Leoncio, et.al. A face oculta do racismo no Brasil: uma análise psicossociológica .
Revista psicologia política
GOMES,F.R.,
MAGALHÃES, M.L. Sport Club Cruzeiro do
Sul e Sport Club Gaúcho: associativo e visibilidade negra em terras de
imigração europeia no RS. RS- Negro
cartografias sobre a produção de conhecimento.
Governo do Estado do Rio Grande do Sul, 2008.
LIMA,
Marcus E. O. . VALA, Jorge. As novas
formas de expressão do preconceito e do racismo. Estudos de Psicologia, 2004, 9 (3), 401 – 411.
ROCHA,
R. M., TRINDADE, A. L. (org.) Ensino Fundamental. Orientações e Ações
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Alfabetização e Diversidade. Brasília: SECAD, 2006.
SENKEVICS, Adriano Souza, et. al. A cor
ou raça nas estatísticas educacionais: uma análise dos instrumentos de pesquisa do Inep.
Brasília - DF Inep/Mec, 2016
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Petronilha B. G. Aprender, ensinar e
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